25 de dezembro de 2008

O cachorro dorme. Displicentemente, jogado em sua cama. São 14h37. Calor, quase 32°.

Brisa leve. Porém, suficiente para balançar as cortinas, apenas. Ele tenta trabalhar. Apesar de feriado, o trabalho exige. Relatórios e mais relatórios... Pelo menos está em casa, de chinelos e sem pressão do escritório à volta. Mas obviamente o trabalho não rende. Levanta, senta-se na cadeira ao lado da cama de seu cachorro e o afaga, olhando pela janela. Gostaria de aproveitar o dia, mas os papéis o puxam para a realidade. Respira fundo.

Vai pegar um copo d'água. O calor está de matar. Volta ao laptop. O relatório ainda na metade, e todo o trabalho pedindo urgência mútua. Respira fundo novamente. Consegue trabalhar por mais duas horas, mas desiste de terminar, enfim. Vai à janela. O belo dia o inspira a sair, mas com quem? Não há um ser humano com quem possa aproveitar o feriado. Vira-se e olha seu cão, tão companheiro nestes dois anos de estrito contato com pessoas. Acho que ele merece uma caminhada nesta tarde tão bonita. 17h49.

Volta, toma uma ducha gelada e volta ao trabalho. Não tem remorsos em trabalhar quando todos descansam e aproveitam. Foi feito de ferro, esforço e garra.

6 de dezembro de 2008

Texto de autoria de Mafalda Maya - mas que consegue traduzir perfeitamente o que quero dizer pra alguém <3

Essa noite eu quero dançar com você.

Me pendurar no seu pescoço, encaixar minha cabeça no seu ombro e fechar os olhos... Não me importa se você não souber dançar. Eu ouço a música, 1, 2, 3, 4 e gira... Não importa.

Quero sentir sua mão na minha cintura, conduzindo meu corpo. Seu nariz no meu pescoço - seu hálito. Quero rir sabendo... prevendo tudo. Não me importa o dia de amanhã, porque essa noite eu quero que você me encoste na parede com força e deslizemos até o chão... O calor do seu corpo pulsando... Quero te beijar, os lábios úmidos - lábios que desejam. E quando as roupas caírem eu vou agarrar o seu corpo, curiosa, e vou te masturbar com vontade de te dar todo o prazer nesse imediato momento. Não me importa.

Não me importam os nomes: amor, sexo, foda... eu quero tudo junto, tanto faz... o principal é você! Eu quero dar pra você. Te beijar sem pressa, sem hora pra acabar, sem rapidinhas, sem hora na manhã seguinte. Porque na manhã seguinte eu quero acordar com você brincando no meu corpo. Rodando o dedo nas pontas dos meus seios. Sentir o calor e o cheiro do seu corpo. Na manhã, macilenta, eu vou esfregar meu corpo do seu: para aquecer e para sentir que você realmente está lá. Vou te beijar a face, a testa, os olhos, a ponta do nariz, o peito, barriga, pernas, peito-do-pé! Vou beijar seu sexo como quem diz "bom dia!". Simplesmente porque gosto do seu corpo. Simplesmente porque você me excita. Quero uma crise matinal de beijos. Ou uma crise de beijos matinais. E então eu vou querer fazer sexo de novo. Preguiçosa por causa do sono, só me entregar para o seu corpo, mais nada, mais ninguém. Não me importa.

Eu quero beijo na boca. Quero beijo na boca quando for gozar - e antes e depois, mas especialmente quando estivermos gozando. E depois, pra descansar, quero deitar sobre o seu corpo. Quero me enrolar no seu corpo. E tomar banho juntos: a água escorrendo no nosso beijo. Minhas pernas duplamente úmidas. A ponta dos meus dedos tocando seus pés. Um abraço debaixo d´água. E quero mais uma vez. Desta vez eu quero a sua língua. Minhas águas escorrendo no seu rosto. Quero suas mãos segurando minhas pernas, minha bunda, me arranhando... Quero que você me devore.

E de novo dançar com você. Correr pelados pelo corredor até nos esconder nas cobertas quentes. Um corpo grudado no outro. Aquecidos. Úmidos. Para começar tudo outra vez.

Essa noite...

26 de novembro de 2008

Eu já disse "eu te amo". Já tomei um porre, já fiz sexo sem pensar no dia seguinte. Já tive medo, e já senti frio na barriga de tanta ansiedade. Já virei noite estudando, mas já tomei bomba em prova que mal sabia o tema.

Já quebrei o braço, já comi fruta do pé. Andei descalça, pulei carnaval com meus melhores amigos. Já beijei alguém pensando em outra pessoa, já ganhei bebida de graça na balada. Já bebi todas e mais um pouco, e passei aperto na hora de pagar a conta.

Já fui traída. Já desejei trair de raiva, já fui a outra. Já quis correr pra minha mãe pra ela me protegesse, mesmo depois de grande. Perdi as contas de quantas vezes briguei em casa porque queria sair. Já cabulei aula pra fumar e beber. Já saí mais cedo da balada pra ir jogar no dia seguinte de manhãzinha, sem beber nada alcoólico a noite toda.

Já joguei pela minha faculdade em uma quadra domindada pela torcida. Já magoei alguém. Já me apaixonei por quem não devia, e já transei com quem não devia também. Já trabalhei mais do que deveria, mas também já dei migué no trabalho. Já fui trabalhar de ressaca.

Já beijei quem não queria e já tive certeza que ficaria com alguém logo quando conheci. Já fui enganada, já fui perseguida. Já perdoei, mas sem muito bem esquecer.

Já perdi a conta de quantas coisas já fiz na vida, e quantas outras ainda quero ou ainda farei...

20 de outubro de 2008

De um papo na internet...

Quinta à noite. Conversando com alguém improvável, um ano depois. De repente, tomei consciência que dali saíam conclusões para dúvidas que me afligiam durante um bom tempo da minha vida. Hoje, são apenas lições pelas quais tive que passar. Inclusive, com aquele com quem conversava.

Primeira lição: precisamos nos valorizar. É aquele papo de garotinha pré-adolescente que está crescendo e quer se afirmar diante das amigas e do carinha que está afim. É um papo sério e que faz com que a gente realmente se torne alguém no mundo e não seja apenas uma sombra dos outros, quem quer que seja. E acima de tudo, somos os primeiros a ter que acreditar. Se não, quem irá? É aquela história dos vetores: um vetor pra cada lado, somados, podem dar um resultado muito diferente do que você planejou de início, colocando-os no mesmo sentido. Mas se você coloca na mesma direção...

Segunda lição: sou nova demais mesmo pra ter decidido o que farei da minha vida pelo resto dela. Mas quem disse que é jornalismo que eu farei, por exemplo? Mesmo agora sei que daqui a dez anos posso estar em outro ramo, totalmente diferente do que eu faço agora. Não preciso ter certeza da profissão que terei. Sei que acertei na comunicação, mas se não tivesse acertado? Era só começar tudo de novo. Já passei por diversas crises de profissão, e hoje percebi que nada que aprendo é pra ser desperdiçado, mesmo que não tenha nada a ver comigo. Conhecimento nunca é demais, e quanto mais eu puder abraçar, melhor.

Terceira lição: por que pensar tanto no futuro se é o presente que grita por decisões? Às vezes, a gente fica pensando tanto no que faremos daqui a vinte anos e simplesmente nos esquecemos de pensar o que é necessário agora pra conseguir chegar vivo aos próximos dez anos. Claro que é angustiante não saber o que será do seu futuro, mas pensar apenas nele não adianta de muita coisa. E muitas vezes só basta viver o presente que o futuro se desenha sozinho. Pelo menos, cada vez mais vejo isso dando relativamente certo pra mim.

Quarta lição: será que a gente é novo demais pra ter que viver tudo isso que eu citei acima? Novo demais? Peraí... Já vivi 22 anos. Ok, não pretendo que isso seja a metade do que ainda tenho pra viver, mas e se for? E se for mais da metade do tempo que viverei? O que o futuro reserva pra gente tá guardado só pra ele, então nada de ficar achando que temos responsabilidades de menos, ou obrigações demais. Tudo que acontece pra gente é pra tentar nos fazer um pouco melhores a cada dia. Até aquela desgraça que acaba com a gente e nos faz sentir o pior ser humano do planeta. Ela, aliás, é a que nos enobrece de uma maneira incrível. Adultecer é legal, e eu nunca achei que fosse dizer isso. Tenho me tornado alguém que eu acho que realmente anda valendo a pena! Mas claro, sempre com algo a melhorar.

Quinta lição: ter medo é normal. E ter desespero diante de tudo isso é mais normal ainda. Mas apatia não dá. Nem simplesmente ficar esperando que isso acabará um dia. Vai lá, se mexa que as coisas acontecem pra você. E não é querer que alguém te dê as respostas prontas. Se a vida fosse fácil assim, se alguém te desse o trajeto do labirinto antes de você entrar, qual a graça de percorrê-lo? Dá pra achar legal um jogo que você já tem todos os segredos e consegue ganhar antes de todo mundo trapaceando? Pode soar masoquista o quanto for, mas sei que todos os perrengues pelos quais passei me fazem merecer muito mais o que tenho e o que não tenho. Valorizo demais todos as minhas conquistas, porque nenhuma delas foi fácil. E esse é o segredo da vida.

14 de outubro de 2008

A dúvida tá aí. Ou alguém acredita que é possível ter plena certeza pra simplesmente ir lá e fazer acontecer? Não, é imposível.

Mas calma. Por que não? Por que simplesmente não tentar? Arriscar-se um pouco na vida é o que garante nossa alegria de viver. Então, fico à beira daquele abismo que me dá frio na barriga, fecho os olhos e me jogo de lá de cima, sem pensar. E a sensação é maravilhosa.

O vento bate no rosto com mais intensidade, e sinto-me livre. Agora consigo acreditar que muito mais coisas são possíveis. Ainda não sei se existe uma corda amarrada ao meu pé e me manter segura, mas tento não pensar nisso agora. Só a sensação de liberdade da queda livre já tem me deixado deveras feliz. Só pela liberdade.

22 de setembro de 2008

Como já disse há algum tempo, sou muito mais sensorial que espiritual. Acredito naquilo que posso ver, ouvir, cheirar, provar e sentir. Acima de tudo, sentir. Aquilo que me causa uma sensação boa, ruim, que me faz ficar com calor ou com frio, que me dá arrepios...

Acredito apenas que existe uma coisa que não podemos controlar: o rumo das outras pessoas e a passagem delas por nossas vidas. Tudo podemos determinar como será, nosso futuro, nossas escolhas, nossas vontades, nosso destino. Mas o rumo de quem passa por nossas vidas não está sob nosso controle. Por isso, tento aproveitar ao máximo o aparecimento de cada pessoa que está no meu caminho.

Sempre serei a melhor pessoa, sempre serei atenciosa, sempre terei carinho e atenção, sempre me entregarei de corpo e alma. Porque cada pessoa é especial e única, e o único motivo que consigo entender para que cada um cruze nosso caminho é porque trará algo pra nossa vida, e sempre será bom, no final das contas. E que nem sempre todas as pessoas ficarão e poderão se interligar mais vezes com o nosso, mas seus caminhos poderão tomar novos rumos... Mas só uma passagem pode ser suficiente pra que ele mude completamente.

9 de setembro de 2008

Tempos modernos

A gente se esforça
A gente se cansa
Trabalha, trabalha e trabalha
Corre atrás do que é nosso de direito

Direito...?
O torto que é não tão certo não é mais garantido...?
A gente se mata, a gente se faz.
E quem valoriza? Só a gente mesmo...
Porque quem gosta do que a gente faz é a gente mesmo.

Não gostar do que faz é o primeiro passo pra derrota.

1 de setembro de 2008

Salto alto. Batom, blush, rímel. Escova, chapinha. Tudo certo, ela está linda. Porém, só para mais um dia de trabalho. Ela não consegue mais viver sem parecer impecável. Pega suas coisas e segue para o caminho que todo dia.

É independente: mora sozinha, trabalha num lugar legal, tem seu carro... Mas está solteira. Já passou por todas as fases: raiva, culpa, aceitação. Agora vivia simplesmente a indiferença. Sempre que sai, pode ficar com alguém, mas nunca é Alguém. Pode até durar mais que uma noite, mas ela tem se importado tão pouco com isso...

Agora sua vida é outra: sua carreira cresce de maneira meteórica, ela junta dinheiro para agora poder viajar e realizar o sonho de sua vida: viajar pelo mundo. Mas agora apenas sai para trabalhar; gosta muito de sonhar, mas precisa manter seus pés no chão para tornar seu grande sonho realidade.

A caminho do trabalho. Trânsito. Aproveita para checar a maquiagem. Retoca o batom; o celular toca. É sua afilhada. Não, ela não é tão velha assim, é a irmã mais nova de sua melhor amiga. A menina, agora uma mulher com 22 anos, a considera como mais uma irmã. Novidades: ela está grávida. Não tem como não ficar feliz, é como se ela mesma fosse ganhar um sobrinho.

E a gravidez traz uma alegria tão bonita... Dá os parabéns, pede para deixá-la a par de todas as novidades em relação ao bebê. Ela está feliz. Mas não sente assim. Por quê? Ela tem 35 anos. É bonita, independente, tem um trabalho legal, mora sozinha... Mas está solteira. Sua afilhada está grávida. E ela sente que dali não passará.

Qual será seu futuro? Qual o sentido de sua vida, de todo seu sucesso, se não tem ninguém para quem deixar tudo o que conseguir? Mas... ela precisa deixar algo para alguém? Ela viveu, aproveitou, e não se arrepende de nada.

Tem sim algo para deixar; pode ajudar sua tão querida afilhada a cuidar desse bebê que vem a caminho. Ela não precisa ser mãe, ela pode sim aproveitar seus 35 anos bem vividos na Europa e quando voltar (e se voltar), um dia, ter seu filho também. Enquanto isso, leva sua vida.

Está divina. Uma mulher tão bem disposta assim às nove da manhã é de impressionar qualquer um. E tudo isso simplesmente porque ela tem muita vida para viver.

21 de agosto de 2008

Sou do tipo de pessoa que não tem crença alguma. Quer dizer, não tenho nenhuma religião, nenhum credo, nenhuma entidade que ajude a reger a minha vida. Acredito em energias. Acredito que tudo que fazmos tem volta, pro bem ou pro mal.

Ultimamente tenho ouvido coisas que tem me feito pensar. Crenças dos orixás e suas energias, poder das palavras ditas e pensadas, energia do pensamento para conseguirmos o que queremos. Complexo, e ao mesmo tempo, confuso. Isso só me faz chegar a uma conclusão: será que a gente consegue mesmo ser agnóstico?

Eu mesma, sem acreditar em nada, sempre falo o tão conhecido "Deus que me livre", e essas coisas. Puro costume de criação cristã. Mas não consigo mesmo pensar que exista alguém maior que mande nos nossos passos. Quem faz nosso caminho somos nós, e ponto. Desculpem se isso soa radical, mas não consigo interpretar de outra maneira estas palavras a não ser que é mais fácil atribuir nossos caminhos a uma outra força que não dependa de nós. Isso pra mim é preguiça de viver.

Mas não consigo ser alheia a tudo, simplesmente. Se eu quero o bem de alguém, e esta pessoa me faz mal, sei que ela receberá seu castigo alguma hora. Sei que se eu falar mal de alguém, terei uma punição logo em breve. Isso é lei do "Aqui se faz, aqui se paga", jargão sim, mas eficiente pacas. E acredito que tudo que nos acontece tem um motivo muito bem traçado por nós mesmos.

Pensar assim tem me feito viver melhor a vida, e sempre que algo me acontece, reavalio minhas ações e meus pensamentos. Se algo não vai bem, a culpa é estritamente minha. Se algo vai bem, sei que as minhas ações estão corretas e devo continuar a agir assim. Sem precisar acreditar em nada, somente na minha força interior.

11 de agosto de 2008

Às vezes nossa vida fica um turbilhão tão grande, que não nos preocupamos com os detalhes. Não nos espreguiçamos após acordar, não dá pra apreciar o gosto do café quente, não olhamos pela janela pra saber se o dia que nasce lá fora está bonito ou não. O trabalho por fazer, as aulas a assistir, as tarefas a cumprir, as reuniões que temos de estar presentes, os relatórios para finalizar... Tudo é mais importante.

Hoje pude ouvir um bem-te-vi na minha janela. Mas não tive tempo para abri-la. Acordei atrasada, e nem café pude tomar.

E lá vou eu para (pseudo)viver mais um dia. Tudo é mais importante, que um dia não terei mais prioridade alguma...

6 de agosto de 2008

Sabe? Cansei de historinhas de amor que a mulher só se fode. Assim, ela conhece um cara na balada, ou num jantar, ou num encontro com os amigos dela, tem um cara xis lá, eles começam a conversar, trocam telefones, saem e começam um relacionamento. Que às vezes pode durar uns meses, ou como a maioria dos que ouço por aí, umas semanas. Suficientes para umas trepadinhas ocasionais até o tal cara perder o tesão inicial pela tal moça.

É claro que ela se apaixona, e acredita que pode conquistá-lo. Ele some sem mais nem menos, e ela fica arrasada, achando que nunca conseguirá ter um relacionamento estável ou alguém que a ame de fato pelo que ela é.

Argh, vou vomitar.

Sério. Mulher é foda e digo isso com conhecimento de causa. Nós falamos tanto que os homens são muitas vezes uns babacas, e até são, quando são filhos da puta suficiente para trair suas namoradas/noivas/esposas, pegar você na balada e querer sustentar esse relacionamento até que ele enjoe do caso e volte pro relacionamento estável, ou uma das duas trouxas descubra. Agora me digam: por que raios uma mulher não pode simplesmente pensar só no lado "Girls just wanna have fun"?

Eu ultimamente tenho pensado assim. Bem egoísta mesmo. Eu quero me divertir. Eu quero aproveitar a minha vida, porque ela não é pra sempre. Agora, alguém me explica por que, como toda mulher, tenho que ser obrigada a passar por crisezinhas sem cambimento e surtos por caras que nem são tão importantes assim?

Meu problema eu sei qual é. Não consigo esquecer. Supero, sim; porque afinal de contas, ficar remoendo caso antigo deve dar câncer. Mas a minha memória é traidora. Músicas, cheiros, lugares, falas, situações coincidentes. Um desses itens, e pronto: a babaca aqui já começa a ficar mal.

Mas tenho superado isso. Teho acreditado mais que sou alguém que vale a pena, e que também su muito nova pra encanar com bostinhas assim. E puxa vida, acredito que toda mulher pode ser assim também. Não dá pra ficar sofrendo por todo cara que a gente se relaciona, a gente também pode pensar como homem e no fundo só querer um pouco de sexo, porque isso também faz bem.

E juro: toda vez que vejo uma mulher sofrendo porque um cara ficou com ela - ele querendo diversão; ela, amor - e sumiu depois de um tempo, me faz acreditar e ser cada vez mais desencanada e agir exatamente como eles agem. Porque as mulheres também podem se divertir e não querer nada sério.

Sem feminismos resguardados, mas o papo do sexo frágil está tão fora de moda e tem tanta gente usando que às vezes fico irritada...

26 de junho de 2008

Contardo Calligaris na Folha de hoje

Porque só um homem fantástico como esse pode escrever tão bem sobre algo que venho tentando há anos...

CONTARDO CALLIGARIS

Amores silenciosos


A gente se declara apaixonado porque está apaixonado ou pelo prazer de se apaixonar?

FAZER E RECEBER declarações de amor é quase sempre prazeroso. O mesmo vale, aliás, para todos os sentimentos: mesmo quando dizemos a alguém, olho no olho, "Eu te odeio", o medo da brutalidade de nossas palavras não exclui uma forma selvagem de prazer.

De fato, há um prazer na própria intensidade dos sentimentos; por isso, desconfio um pouco das palavras com as quais os manifestamos. Tomando o exemplo do amor, nunca sei se a gente se declara apaixonado porque, de fato, ama ou, então, diz que está apaixonado pelo prazer de se apaixonar.

Simplificando, há duas grandes categorias de expressões: constatativas e performativas.
Se digo "Está chovendo", a frase pode ser verdadeira se estamos num dia de chuva ou falsa se faz sol; de qualquer forma, mentindo ou não, é uma frase que descreve, constata um fato que não depende dela.

Se digo "Eu declaro a guerra", minha declaração será legítima se eu for imperador ou será um capricho da imaginação se eu for simples cidadão; de qualquer forma, capricho ou não, é uma frase que não constata, mas produz (ou quer produzir) um fato. Se eu tiver a autoridade necessária, a guerra estará declarada porque eu disse que declarei a guerra. Minha "performance" discursiva é o próprio acontecimento do qual se trata (a declaração de guerra).
Pois bem, nunca sei se as declarações de amor são constatativas ("Digo que amo porque constato que amo") ou performativas ("Acabo amando à força de dizer que amo"). E isso se aplica à maioria dos sentimentos.

Recentemente, uma jovem, por quem tenho estima e carinho, confiava-me sua dor pela separação que ela estava vivendo. Ao escutá-la, eu pensava que expressar seus sentimentos devia ser, para ela, um alívio, mas que, de uma certa forma, seria melhor se ela não falasse. Por quê?

Justamente, era como se a falta do namorado (de quem ela tinha se separado por várias e boas razões), a sensação de perda etc. fossem intensificadas por suas palavras, e talvez mais que intensificadas: produzidas.

É uma experiência comum: externamos nossos sentimentos para vivê-los mais intensamente -para encontrar as lágrimas que, sem isso, não jorrariam ou a alegria que talvez, sem isso, fosse menor. Nada contra: sou a favor da intensidade das experiências, mesmo das dolorosas. Mas há dois problemas.

O primeiro é que o entusiasmo com o qual expressamos nossos sentimentos pode simplificá-los. Ao declarar meu amor, por exemplo, esqueço conflitos e nuances. No entusiasmo do "te amo", deixo de lado complementos incômodos ("Te amo, assim como amo outras e outros" ou "Te amo, aqui, agora, só sob este céu") e adversativas que atrapalhariam a declaração com o peso do passado ou a urgência de sonhos nos quais o amor que declaro não se enquadra.

O segundo problema é que nossa verborragia amorosa atropela o outro. A complexidade de seus sentimentos se perde na simplificação dos nossos, e sua resposta ("Também te amo"), de repente, não vale mais nada ("Eu disse primeiro").

Por isso, no fundo, meu ideal de relação amorosa é silencioso, contido, pudico.
Para contrabalançar os romances e filmes em que o amor triunfa ao ser dito e redito, como um performativo que inventa e força o sentimento, sugiro dois extraordinários romances breves, de Alessandro Baricco, o escritor italiano que estará na Festa Literária Internacional de Parati, na próxima semana: "Seda" e "Sem Sangue" (ambos Companhia das Letras).

Nos dois, a intensidade do amor se impõe com uma extrema economia de palavras ("Sem Sangue") ou sem palavra nenhuma ("Seda"). Nos dois, o silêncio permite que o amor vingue -apesar de ele não poder ser dito ou talvez por isso mesmo.

No caso de "Seda": te amo em silêncio porque te encontro ao limite extremo de uma viagem ao fim do mundo, indissociavelmente ligada a um outro, e nem sei falar tua língua.
Você me ama em silêncio porque sou outro: uma aparição efêmera, uma ave migrante.
No caso de "Sem Sangue": te amo, e não há como falar disso porque te dei e te tirei a vida. E você me ama pelas mesmas razões pelas quais poderia e deveria querer me matar (os leitores entenderão).

Nos dois romances, a ausência da fala amorosa acaba sendo um presente que os amantes se fazem reciprocamente, uma forma extrema (e freqüentemente perdida) de respeito pela complexidade de nossos sentimentos e dos sentimentos do outro que amamos.

24 de junho de 2008

Amo. Amo com todas as minhas forças, sem hesitar e sem ter medo do que sinto. Com todas as vontades, e controlando tudo o que sinto também. Porque não sou correspondida. Mas estou aqui, mesmo assim, sempre amando-o, e deixando-o viver sua vida. Porque é o melhor que posso fazer.

E tenho a minha consciência limpa. Porque sei que não fui eu quem perdi, apenas.

4 de março de 2008

O início

Entrei nessa sem saber, e talvez até sem querer. Mas já que eu estava aqui, pensei "Vumbora". Passei por poucas e boas. Chorei, sofri, doeu. Mas eu também ri. Eu também me diverti, eu também aproveitei.

E ainda está tudo no começo. Hoje tenho a sensação de ter a consciência necessária pra viver. A gente não se dispõe a viver plenamente até o momento que queremos.

Não apenas eu estou no começo. Tudo sempre está. O dia, a vida, o sol, as risadas. Mas elas se vão, e não sabemos quando voltam. Por isso, aproveito tudo o máximo que posso. Porque assim que a vida me ensinou.